Trecho do livro

HISTÓRIA DA CAPOEIRA
EM SOROCABA


autores:
Wellington Tadeu Figueredo
e Sandra Ayumi Oshiro

 

  Prefácio do mestre Suassuna
 

Sinto-me honrado em escrever o prefácio deste livro, embora fique meio embaraçado ao fazê-lo, principalmente porque ele se refere a fatos muito emocionantes de minha vida. Ele discorre sobre o estabelecimento da primeira filial do Grupo Cordão de Ouro e me lembra da primeira turma de capoeiristas que formei, amigos inesquecíveis aos quais sou grato por muitas alegrias que me deram. Entre eles estavam o aluno legítimo, Celso Bujão, e o adotado, o Jorge Melchiades, que também formei.

Em razão do contato com o Jorge Melchiades, passei a visitar a cidade de Sorocaba no início do ano de 1970, para jogar Capoeira no Zoológico, nas praças, ruas e clubes. Depois da intensa atividade desse ano, voltei outras tantas vezes, em todos os anos que se seguiram, até hoje. E sempre fui muito bem recebido por sua gente hospitaleira.

Nessa cidade vi a Capoeira iniciar jornada gloriosa e um dos meus primeiros alunos, o Celso Bujão, se casar, constituir família e se enraizar. Nunca vi nem conheci capoeirista de Sorocaba antes do Jorge e do Jorginho começar a prepará-los auxiliados pelo Bujão e os saudosos Paulo Limão e Silvestre. Também nunca vi nem conheci, em tempo algum, jogador de pernadas dessa cidade. Aliás, quando ouço algumas pessoas dizerem que pernada é capoeira, reafirmo o de sempre: jogador de pernadas é sempre alguém que gostaria de treinar capoeira e não conseguiu.

Seja como for, encaro o trabalho desenvolvido na feitura deste livro, pelo Wellingtom Tadeu Figueredo e Sandra Ayumi Oshiro, uma epopéia comparável a que viveu o negro capoeira Ciríaco, quando foi levado, em 1908, pelos acadêmicos de Medicina do Rio de Janeiro, a enfrentar o lutador de Jiu-jitsu, o japonês Sada Miako, em grande espetáculo público. Dizem que quando o juiz autorizou a luta e o japonês se curvou, como manda o hábito elegante de sua gente, para saudar o brasileiro, levou um violento rabo-de-arraia que o prostrou a nocaute sem a menor possibilidade de reação.

Na minha versão, a luta fica mais excitante e dramática, pois o Ciríaco colocou uma navalha entre os dedos do pé, sem que ninguém visse... E o japonês, que era muito maior e mais forte que o franzino brasileiro, conseguiu agarrá-lo e levantá-lo acima da cabeça para bater várias vezes com ele no solo. Em dado momento, Miako parou de espancar o chão com o Ciríaco e perguntou: "Chega? Você quer parar? Desistir?". E o negro respondeu: "Eu paro quando você permitir, dizendo sim com a cabeça". O japonês achou esse costume dos lutadores brasileiros bem bobo, mas como já estava cansado de bater foi balançar a cabeça e ela caiu a seus pés, totalmente separada do pescoço.

A minha história pode não ser muito boa, nem verdadeira, mas dessa, o Jorge, o Celso e outros alunos da minha primeira turma de formados gostavam muito, quando eu a contava nos espetáculos que dávamos.

Lembrar de coisas boas junto com velhos amigos sempre é muito bom, não é?

Reinaldo Ramos Suassuna
Mestre Suassuna
Fevereiro de 2007


Referência Bibliográfica:

FIGUEIREDO, Wellington Tadeu; OSHIRO, Sandra Ayumi. História da Capoeira em Sorocaba. Itu: Ottoni Editora, 2007. p. 5-6


HISTÓRIA DA CAPOEIRA EM SOROCABA

Livro importantíssimo para capoeiristas, pesquisadores, folcloristas e historiadores, pois além de apresentar farta documentação (mais de 150 documentos) sobre capoeira e seu início em Sorocaba, traz 62 depoimentos, entre eles, de mestres consagrados da capoeira, como por exemplo, do internacional mestre Suassuna (um dos introdutores da capoeira em São Paulo- pág 101-104), Comendador mestre Valdenor (presidente de Federação Paulista de Capoeira), mestre Damião (aluno de mestre Bimba), mestre Celso Bujão (formado da 1ª turma do Grupo “Cordão de Ouro”), mestre Jorge Melchiades (o pioneiro da capoeira em Sorocaba, aluno dos saudosos mestres Valdemar Angoleiro, Paulo Limão, Silvestre e posteriormente formado do mestre Suassuna).