Trecho do livro

HISTÓRIA DA CAPOEIRA
EM SOROCABA


autores:
Wellington Tadeu Figueredo
e Sandra Ayumi Oshiro

 

  Prefácio do capitão João Brotas

A capoeira é um legado dos negros ao nosso país, do tempo da escravidão. Foi criada no Brasil e aqui se desenvolveu, enquanto dança-luta que nas últimas décadas alcançou dimensão internacional. Tornando-se um produto de exportação, passou a ser também, objeto de cobiça de pessoas oportunistas, que passaram a apresentá-la "pintada com as matizes" dos mais variados interesses escusos. Especialmente, há as que requisitam a paternidade dela para sua região, defendendo que ela nasceu e se desenvolveu na sua cidade, ou bairro, e afrontando a proposta até hoje coerente de que, ela tenha nascido e desenvolvido na Bahia. Nega-se aos baianos a paternidade, para atribuí-la aos cariocas, aos paulistas ou aos mato-grossenses... E na dificuldade de provar essas afirmativas de modo idôneo, começam a chamar de "capoeira" a qualquer atividade que tenha ocorrido em seu território.

Essas pessoas, posando de "pesquisadores" ou de "historiadores", descaracterizam a capoeira de seus traços específicos, e da sua identidade. Apresentam a capoeira, na verdade, como "órfã de pai e mãe"; como uma prática bastarda, que pelo seu valor ativa a cobiça estrangeira. Seguindo a mesma linha oportunista, os franceses, por sua vez, também se candidatam à "paternidade" e passam a afirmar que a capoeira é francesa, porque teria se desenvolvido do Savate. Os chilenos, igualmente diriam que a capoeira nasceu no Chile, porque lá tem uma atividade na qual as pessoas dançam e fazem acrobacias. Os mexicanos podem reclamar também, e os alemães, e os asiáticos, e os australianos, e assim por diante.

Os historiadores que querem retirar a paternidade da capoeira da Bahia e levar para outra região devem apresentar provas insofismáveis sobre o nascimento, o desenvolvimento e a evolução da capoeira no seu reduto, do mesmo modo que os historiadores já demonstraram como isso aconteceu na Bahia, tendo descido para o Rio de Janeiro no final do século XIX e avançado para São Paulo no século XX a partir dos anos 50, mais propriamente na década de 60 com o trabalho dos mestres Suassuna, Gilvan, Paulo Gomes, Pinatti e outros. Os inúmeros documentos e provas apresentados pelos autores deste livro dizem de sua chegada em Sorocaba.

João Brotas, passista de escola de samba
Jornal Cruzeiro do Sul, 13/02/1986 - pág 14.

legenda: "Mesmo debaixo de chuva, a bateria de cada escola soou forte, e os passistas deram vida ao samba."

Há, porém, em Sorocaba, uma certa corrente antagônica, que nos moldes mencionados levanta uma possível existência de capoeiristas, que não convence ninguém por falta de provas idôneas e de coerência lógica com todos os outros fatos nela ocorridos. Não há coerência com o que eu vivi e conheci, por exemplo. Nasci em Sorocaba em 1952 e passei toda minha infância e adolescência, vendo a cidade crescer. Acompanhei e vivi intensamente os anos 60 e 70, curtindo minha juventude e participando ativamente da sua vida cultural e social. Desfilei como passista no carnaval de rua pela Escola de Samba III Centenário (vide foto), do falecido mestre Lazinho. Fui sócio e freqüentador assíduo do extinto Clube Atlético Scarpa que, foi o primeiro clube sorocabano a possuir piscina. Mais tarde tornei-me sócio e igualmente freqüentador do Estrada Futebol Clube, do Clube União Recreativo e da Sociedade Cultural e Beneficente 28 de Setembro. Este, sempre um clube muito bem freqüentado, particularmente pela comunidade negra de Sorocaba e região, promovia determinados eventos distintos e característicos, tais como o concurso de Miss Colored, e o tradicional baile da Aparecidinha, sem falar da famosa Escola de Samba. Pois bem, antes de 1970, em momento algum assisti apresentações de capoeira no 28 de Setembro, e nem tampouco dança ou algum ritual folclórico que tivesse o nome de "Pernada". Os eventos ocorridos no Clube 28 de Setembro eram sempre abertos aos sócios e freqüentadores, e nunca soube que havia sigilo nas suas atividades. Também nunca presenciei prática de Capoeira ou de "Pernada" em outro local, os quais eu constantemente freqüentava.

Por isso tudo, é de extrema importância este livro, escrito pela Sandra Ayumi Oshiro e Wellington Tadeu Figueredo, pois o mesmo tem a finalidade de elucidar e apresentar fatos que comprovam e retratam a verdadeira História da Capoeira em Sorocaba.

João Francisco Rodrigues Brotas
É Capitão do Exército e Oficial de Relações Públicas
da 14ª CSM – Sorocaba.
Tem coluna permanente na Folha Nordestina e no
Informativo Nossa Posição.
Escreve a título de colaboração, crônicas e artigos para os jornais,
Cruzeiro do Sul, Diário de Sorocaba,
Bom Dia e a Folha de Votorantim.
Março de 2007


Referência Bibliográfica:

FIGUEIREDO, Wellington Tadeu; OSHIRO, Sandra Ayumi. História da Capoeira em Sorocaba. Itu: Ottoni Editora, 2007. p. 9-11.