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Ótima oportunidade ao leitor, de conhecer alguns conceitos básicos da teoria freudiana através de uma sintética, interessante e revolucionária versão não materialista. Ao relatar O SONHO que teve com o criador da Psicanálise, o autor vai expondo, de maneira acessível a qualquer pessoa interessada, os passos primordiais para o início de uma ANÁLISE pessoal, que leve em conta os anseios mais PROFUNDOS da alma.

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UM ANIMAL CAMPEÃO

Pessoas cultas se acomodaram na plateia de grande anfiteatro, diante de especialistas expondo as últimas descobertas de diversas ciências biológicas. Desde o início ficaram encantadas com suas INTERPRETAÇÕES, que ora eram norteadas por doutrinas econômicas e políticas de esquerda, ora de centro e ora de direita, sobre a vida no planeta e a famosa “luta pela sobrevivência”.

Envolvidas por discursos feitos com mal disfarçada vaidade, as pessoas passaram a imaginar a natureza como uma espécie de antigo coliseu romano dirigido por divindade perversa, onde empolados locutores anunciavam aos espectadores boçais e sedentos de sangue, as atrações de monumental certame a se desenrolar na arena central. No delírio obsceno de todos, então, veados disputariam a vida com leões, ursos com as serpentes, as tartarugas com as formigas, etc. Espertos propagandistas de torneios promovidos por seus patrões se esmeraram na arte de dar à voz um tom atraente, ao elogiar as virtudes dos animais com maior chance de subir ao pódio da sobrevivência. Apologéticos e até poéticos, exaltaram as armas ofensivas e defensivas dos seres que vivem nas águas, entre eles os que dão descargas elétricas, os que possuem tentáculos ou mordem... E, tanto enalteceram asas, presas, chifres, unhas e força dos animais alados e terrestres, que provocaram nos atentos e circunspectos presentes, desejos de permanecerem eternamente irracionais.

O tempo passou e com a voz já meio rouca se louvou os animais maiores, como as baleias, os elefantes e os rinocerontes... Depois vieram os peçonhentos que, com terríveis venenos, paralisam, cegam ou matam lentamente suas vítimas. Finalmente, quase sussurrando e em êxtase de macabro delírio fanático, os locutores anunciaram, com epítetos espetaculosos de nobreza, “valentia”, “heroísmo” e “sabedoria”, o campeão: o homem. Aplausos frenéticos, hurras histéricos, pulos desvairados, entremeados com um óóóóó dos mais tímidos, recompensaram a locução.

Após a exposição da emocionante epopeia humana, muito bem ponteada pelos narradores com ares de comentaristas esportivos, ninguém mais duvidou que os ataques a presas e demais confrontos indicam haver feroz COMPETIÇÃO, na qual as espécies mais fracas são eliminadas, extintas, e só os mais fortes sobrevivem.

Mas, justo no momento de êxtase coletivo, uma asquerosa barata em voo atabalhoado ameaçou pousar no rosto das pessoas. Houve pânico entre as mulheres e até mesmo no grupo de espadaúdos e tatuados lutadores de MMA presentes no evento. Um deles, porém, se encheu de coragem, fez cara de mau e mandou um cruzado de direita que levou o inseto ao chão, onde foi, em seguida, esmagado com vigoroso pisão. Todos respiraram aliviados ante mais uma exibição heroica do campeão dos animais.

Pois é, essa competição pela vida dá como certa a sobrevivência dos mais fortes, numa INTERPRETAÇÃO que é atribuída ao evolucionista Charles Darwin. Mas, o brilhante estudioso expôs em teoria, que o processo evolucionário é imposto pelo AMBIENTE, que conduz à seleção natural dos fisiologicamente mais aptos. Para ele, a aptidão para sobreviver de uma espécie depende das imposições do AMBIENTE, que dá oportunidade de vida a uma imensa variedade de formas viventes. Para Charles Darwin, portanto, a aptidão para sobreviver não é, em nenhum momento, ter a imensa estupidez de ELIMINAR outras formas de vida. O pior é que, o grande cientista, LIMITADO ao que podia ver, IGNOROU o que não via, ou o princípio de COLABORAÇÃO inconsciente que leva TODOS os espíritos à EVOLUÇÃO.

Ora, dispensando a propaganda da “grandeza” humana, qualquer pessoa de média cultura ficaria LIVRE para perceber por si mesma, que homens são como invisíveis grãos de poeira perdidos num planetazinho minúsculo na periferia da “Via Láctea”, que é apenas uma entre milhões de galáxias maiores e menores do universo cósmico. O problema é que, EDUCADO pelas apologias desde a infância, o homem compensa real insignificância e ignorância ante todos os mistérios da natureza, com absoluta falta de humildade. E, na CRENÇA megalomaníaca de possuir um saber inquestionável, já criou deuses antropomórficos e nacionalistas que deram aos outros seres viventes a única utilidade de servi-lo, para se apossar de todo o planeta e nele provocar irresponsável explosão demográfica. Sua falta de modéstia não permite que aprenda muito ao rever seu passado fracassado de geocentrismo e vergonhoso etnocentrismo, sem falar do nazismo entre outros horrendos ismos...

Assim, desprovidos de sábia humildade, especialistas impõem seus delírios a pessoas menos preparadas, provocando nelas, por imitação, o estado de paralisia mental das opiniões inquestionáveis. Por ser a arrogância regra de duas vias, tais INTERPRETAÇÕES são como leite maternal sugado de“autoridades científicas” que suprem a dependência infantil. Este acatamento passivo gera bloqueios psicológicos que impedem o desenvolvimento de mente crítica, autônoma e realmente científica, pois esta é sempre pronta a TUDO investigar sem preconceitos.

Orgulhosos de serem CAMPEÕES entre animais, muitos não se dão conta de que são amestrados por doutrina política e econômica, para se multiplicarem numa sobrevivência louca e sem tino, de modo a EXCLUIR para sempre de seus espaços vitais as demais criaturas viventes. Como um vírus cancerígeno, portanto, que adoece o planeta gravemente, tudo indica que apenas invejam os VERDADEIROS campeões de sobrevivência: as pré-históricas baratas, os fungos, as bactérias e os vírus patológicos, que já habitavam a Terra bem antes de os homens nela aparecerem, e certamente nela continuarão, após seus imitadores a tornarem inabitável para si...

 

 

Prof. Jorge Melchiades Carvalho Filho

Fundador do NUPEP

Membro da Academia Sorocabana de Letras

Publicado na Folha Nordestina – edição de julho - 2012

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