Livros do Prof. Jorge Melchiades

Um presente para você !

Clique aqui e faça o download do livro "Nós, Freud e o Sonho" do Prof. Jorge Melchiades Carvalho Filho

Ótima oportunidade ao leitor, de conhecer alguns conceitos básicos da teoria freudiana através de uma sintética, interessante e revolucionária versão não materialista. Ao relatar O SONHO que teve com o criador da Psicanálise, o autor vai expondo, de maneira acessível a qualquer pessoa interessada, os passos primordiais para o início de uma ANÁLISE pessoal, que leve em conta os anseios mais PROFUNDOS da alma.

Outros Livros

mais artigos do Prof. Jorge Melchiades

SEM VERGONHA... de ter moral

Da imensidão de fatos violentos e constrangedores que atingem o cidadão brasileiro diariamente, apenas alguns são divulgados nos jornais e veículos da mídia em geral. E entre as publicações de vandalismo, de crimes contra a vida, contra o patrimônio particular ou público, há aquelas sobre corrupções e escândalos envolvendo nossos representantes, na democracia que merecemos ter.

Já foram notícias, por exemplo, o deputado, que apesar de ter organizado festa para casais em quarto de motel e tentar obter o ressarcimento das despesas pela Câmara dos Deputados, terminou convidado para ser ministro do atual governo; o abusivo aumento dos próprios salários pelos vereadores, a exemplo dos deputados estaduais, federais e senadores; o insignificante aumento do salário mínimo para os trabalhadores e aposentados, proposto pelos homens do governo e as inescrupulosas e milionárias aposentadorias vitalícias,  garantidas  a si mesmos, sem o cumprimento do tempo de serviço exigido aos cidadãos comuns. Normalmente, este tipo de notícias parece causar repúdio e revolta na população, e os seus autores passam por verdadeiros heróis, pois dão a impressão de alertar o povo, de que tais atos safados, embora legais, não deixam de ser repreensíveis moralmente...

Mas, esse repúdio pela ausência de moral nos atos legais, seria autêntico, verdadeiro? Não. Não pode ser, porque não é capaz de motivar passeatas pelas ruas numa firme campanha para se exigir, efetivamente, ética no trato das coisas públicas. Muito ao contrário, a aceitação passiva de atos com ética reprovável parece ter se tornado regra. Sem exagero algum podemos afirmar que a maioria das pessoas até parece propensa a não achar “legal” uma ação firme, inquestionável, de rejeição ou de esconjuro a atos antiéticos. Qualquer um pode observar o estranho fenômeno de aceitação geral das ocorrências antiéticas, em suspeitoso conluio com os discursos que supostamente lhes fariam crítica.

Tal contradição na atitude, que ao final é passiva, dá aval público aos que se envolvem em escabrosas mentiras e atos ilegais ou legais viciados moralmente. Na maior parte das vezes o aval é dado na inconsciência ou ignorância da contradição. Todavia, existem pessoas defendendo declaradamente os desvios morais, entre elas as que admitem sentir vergonha de criticá-los porque não querem ser vistas como “moralistas”. Dizem, entre outras frases: “Não sou moralista, mas...”; “Não que eu defenda moralidade...”; “Longe de mim ser moralista!”

O óbvio é que tais pessoas não acham “legal” a prática moralista e a evitam como crianças fugindo do remédio ministrado por via da injeção. Por temerem a picada da agulha, fogem do remédio capaz de livrá-las de patologia epidêmica.  Na IGNORÂNCIA ingênua das vantagens e necessidade da injeção acabam valorizando a insignificante dor da picada, ao ponto de ocupar a consciência apenas com um fantasma (fantasia, ilusão) capaz de impedir que pensem com clareza nas dores terríveis e reais que a abstenção do remédio pode causar.

De igual modo, as pessoas que se envergonham de defender posturas morais com firmeza mantêm na consciência o fantasma do PRECONCEITO, ou a crença equivocada de que a palavra “moralista” só tem sentido pejorativo, relacionado a indivíduos que exigem comportamento ético dos outros, mas não agem de acordo com a moral que pregam. Também confundem, geralmente, moral com obediência a regras de uma religião, e por rejeitarem  esta, rejeitam igualmente aquela.

Muito raras são as pessoas preocupadas em entender com precisão os conceitos que integram o saber orientador da própria vida e atitudes, sendo que a maioria simplesmente repete como papagaio o que recebeu do meio cultural, ideológico e individualista. Até pessoas consideradas bem educadas intelectualmente podem acreditar, por exemplo, que “moralista” é um sujeito incapaz de se adequar à realidade de inclusão à cidadania, de progresso mental e de aceitação das diferenças individuais e culturais. E geralmente ainda entendem, que o “moralista” vive querendo enquadrar a conduta alheia a cânones arcaicos para exercitar poder.

Portanto, muitos são os que usam o termo “moralista” referindo-se a PRECONCEITUOSOS FANÁTICOS por regras de conduta. Mas, ao fazerem isso, também abrangem no próprio PRECONCEITO as pessoas ponderadas e corretas, que respeitam deveres morais (entendidos aqui como sinônimos dos éticos) em relação à comunidade em que vivem. Confusos, jogam a água do banho com o bebê que banharam, como quaisquer PRECONCEITUOSOS FANÁTICOS. Isto é, generalizam os defeitos presumidos em uns para outros, sem nenhuma análise ou de modo pré-concebido.

Ora, as palavras, ética e moral, derivam etimológica e respectivamente de théos do Grego e de mores, do Latim, que significam, originalmente, costume relacionado à prática do bem no coletivo. A história de todas as sociedades primitivas conhecidas, por outro lado, confirma que a prática moral se desenvolveu dos esforços humanos para organizar a vida em comunidade disciplinando atos individuais considerados lesivos a ela. Sendo assim, moral é costume cultural que teve origem na racionalidade emergente do homem, pois que o animal irracional é incapaz de praticá-la. Aliás, somente pessoas com senso de humanidade compreendem a necessidade de se coordenar os atos individuais para a cooperação, a proteção mútua e a duradoura cordialidade em prol do BEM de todos do coletivo. Já nos primórdios da humanidade, portanto, homens inteligentes estabeleceram entre si um pacto tácito de boa convivência, no sentido de disciplinar os atos instintivos e egoístas do animal desprovido da educação civilizada. Tudo em favor do BEM comum, e toda lesão a este bem passou a ser combatido como mal. Tendo em vista que a prática da MORAL é uma tentativa RACIONAL de construir vida pacífica na comunidade, verificamos que todos os rituais, regras e costumes praticados pelas diferentes culturas têm a união grupal como objetivo. O castigo muitas vezes violentíssimo infringido publicamente aos que praticavam condutas lesivas ao grupo, como mutilação, pena de morte, açoite, apedrejamento, degredo ou exílio, apesar de cruéis e bárbaros resultaram, portanto, da tentativa racional de se atingir o objetivo interino da comunidade. Infelizmente, porém, em toda época e lugar foram poucos os que adquiriram consciência da serventia da MORAL. A maioria das pessoas obedecia e obedece sem questionar, a moral imposta pelo costume.

TODOS os que possuem um mínimo de civilidade praticam uma moral. O problema é que, por força da conveniência oportunista e do individualismo amestrado, há os que praticam MORAL voltada ora para o bem (para a paz e a harmonia coletiva) e ora para o mal (sob individualismo egoísta, irracional e deletério). Para levar vantagem pessoal e acreditando burlar as leis criminais há, por exemplo, indivíduos capazes de estuprar a mãe, os filhos e até de matar os pais, e depois,  esconder seus crimes sob a máscara da mentira e da hipocrisia. A maioria de nós, porém, tem moral voltada para o bem porque repudia tais crimes e a hipocrisia que esconde e livra os ladrões, corruptos e assassinos das malhas punitivas do Estado. Neste sentido somos moralistas sim! Resta saber se, ao contrário dos covardes ocultos pela sombria hipocrisia, assumimos essa moral SEM VERGONHA.

A lei do Estado não é tudo e a moral precisa ser aperfeiçoada de quando em quando, para se acomodar às exigências evolutivas da capacidade racional. Apenas o bem, que é o fim visado pela prática moral não pode mudar, sob pena da perversão coletiva. As regras morais surgiram da necessidade empírica de eliminar ou limitar ao mínimo os atos lesivos à vida em harmonia na comunidade, e se através dos tempos foram manipuladas ardilosamente pelos dominantes políticos, foi porque entre os homens sempre abundaram alienados dando aval expresso ou tácito aos que, para obterem vantagens imorais manipulam não só a função da moral como das leis.

Pois bem, o princípio maior da moral racional é a verdade, e a justiça o seu corolário. Sem zelar pela verdade os homens acolhem a mentira no caráter e a hipocrisia nas relações interpessoais. Aí vivem na mentira que acreditam ser vantajosa, se gabando de serem legalistas e com VERGONHA de assumir VERDADEIRO compromisso com a moral. Ora, se na relação entre os homens faltar fidelidade ao princípio MORAL da verdade, a legalidade que podem elaborar e defender não pode produzir verdadeira JUSTIÇA.

Prof. Jorge Melchiades Carvalho Filho

Fundador do NUPEP

Membro da Academia Sorocabana de Letras

Publicado na Folha Nordestina – edição de março - 2011 - página 13

mais artigos do Prof. Jorge Melchiades