MENU

Livros do Prof. Jorge Melchiades

Um presente para você !

Clique aqui e faça o download do livro "Nós, Freud e o Sonho" do Prof. Jorge Melchiades Carvalho Filho

Ótima oportunidade ao leitor, de conhecer alguns conceitos básicos da teoria freudiana através de uma sintética, interessante e revolucionária versão não materialista. Ao relatar O SONHO que teve com o criador da Psicanálise, o autor vai expondo, de maneira acessível a qualquer pessoa interessada, os passos primordiais para o início de uma ANÁLISE pessoal, que leve em conta os anseios mais PROFUNDOS da alma.

Outros Livros do Nupep

Capoeira Mística

Capoeira
Rituais da Capoeira Mística
Quem é seu fundador
Curso de Capoeira Mística
Galeria de Fotos
CD da Capoeira Mística

 

CURSO DE CAPOEIRA MÍSTICA DO MESTRE JORGE MELCHIADES

Parte Teórica - Aula 9


Folclore e Cultura Afro Brasileira - O QUE É PERNADA?

Em treino, um aluno perguntou-me de chofre: “Mestre, o que é pernada?”. E diante da perplexidade de outros alunos, contou que assistiu atentamente a um “documentário” sobre pernada numa televisão local e continuou sem nunca ter VISTO uma e sem saber o que é. Perguntei-lhe: O “documentário” sobre pernada não a mostrou, não a explicou e nem a definiu? Curioso! E o aluno respondeu: “Nele tinha muito papo e uma cena em que dois capoeiristas da atualidade (2005) mostraram lances de capoeira em branco e preto, certamente para simular antiguidade e talvez para induzir quem assiste a acreditar que está vendo pernada. Teve um senhor, que dizem ser antigo “capoeirista” e praticante de pernada, que caiu de bunda no chão quando tentou fazer uma negativa (movimento elementar da capoeira). E caiu, não por ser idoso ou estar bêbado, mas porque não sabia fazê-la. Teve sambista de outra cidade sambando e ameaçando enfiar o chapéu na cara do outro, e mais pessoas cantando, falando, falando, falando que viram brigas, danças e bailes de antigamente... Ora mestre, jogo de capoeira eu conheço e reconheço quando VEJO, sei também que não é briga, mas se VI briga, posso dizer que VI pernada?”
Expliquei que a pergunta dele era sábia, pois sempre é prudente saber o que significam as palavras para não se falar como papagaio, não se ENGANAR, nem aos outros. Aí ponderei que quem gosta de CONFUSÕES são as pessoas confusas ou as que querem VER... as outras confusas. Comentei, ainda, que se o “documentário” não mostrou roda de pernada e ninguém explicou como ela era, certamente foi porque os que dele participaram não sabiam do que falavam, pois NUNCA VIRAM uma.
Aí o aluno interpelou, intrigado: “Mas, por que falariam do que não viram?”.
Para realizar algum interesse (desejo) consciente ou inconsciente! Afinal, poucos viram a pernada e menos ainda viram roda de pernada! Esta eu NUNCA VI e estou com 66 anos de vida em Sorocaba, onde VI roda-gigante, de carroça, de carro-de-boi, de moinho, de automóvel... A de capoeira muitos viram pela primeira vez em nossa cidade em 1969. Depois ficou fácil de ver, pois se expandiu para o mundo nos anos 80, enquanto outras práticas de negros e de brancos foram abandonadas sem sair das regiões onde realmente existiram. O povo fez da capoeira moda, pelos mesmos motivos que dança certas músicas e ritmos, em vez de outros do passado.
O homem do povo diz, por exemplo: “Danço conforme a música”, mas diz isso dançando samba, por exemplo, e não a  dança da chuva.
O aluno me olhou intrigado e perguntei se ele já VIU a dança da chuva. Respondeu que não. Acrescentei que poderia ter visto uma encenação dela em algum filme de Tarzan ou documentário fajuto, e neste caso deveria ter cautela para não acreditar nos que a encenaram, talvez sem nunca a terem visto e nem se dado ao trabalho de pesquisar sobre ela. Quanto à roda de pernada, observei que antes de responder devíamos pesquisar, e começar procurando alguém que a VIU, para nos descrever como era, sabendo que poderíamos encontrar quem dissesse ter visto, quando na verdade VIU coisa bem diferente, ou nada. Não é por mal que digo isto, mas alguém poderia dizer que VIU por ingenuidade, por engano, por vaidade, por ter sido induzido a isso, para chamar a atenção sobre si e ganhar notoriedade, ou simplesmente por ser mentiroso mesmo. Por qualquer desses motivos tem gente dizendo coisas assombrosas. A cidade de Varginha, no Estado de Minas Gerais, por exemplo, ficou famosa e atraiu a atenção de todo mundo, quando em Janeiro de 1996 algumas pessoas de lá denunciaram à polícia local, dois extraterrestres que foram VISTOS atrás de uma moita. Quem disse que VIU realizou o desejo de ganhar notoriedade e tudo foi muito bom para os negócios da cidade. Logo, se perguntarmos por lá é provável encontrarmos também quem VIU os dois alienígenas dando pernadas numa roda que o OVNI teria deixado estampada em fogo no “campo queimado”; um significado do termo capoeira.
Mas o nosso problema não é saber se quem encena coisas falsas ou diz que VIU sem ter visto é retardado ou gosta de “queimar campo”. Nosso problema é não ser “enrolado” por qualquer ignorante. Afinal, se podemos escolher com qual ignorância ficar, a respeito de algo, fiquemos com a própria, que já é difícil de suportar sem somar a ela a encenação besta dos outros.
O sujeito pode ter VISTO algo ao dizer que no passado viu ou deu pernada! E aqui o nosso problema é saber exatamente o que foi que ele DEU, ou viu. Suponhamos que tenha DADO uma particular interpretação a um fato real, de modo a transformá-lo em boato. Por exemplo, viu o cadáver de cicrano, e como tinha visto este anteriormente levar um soco de beltrano, que interpretou como sendo um poderoso lutador de caratê, pode dizer que foi o soco que matou cicrano, “sem dúvida”. A descrição dos fatos, ainda que em parte verdadeira, foi deturpada, e um soco fraco dado por quem nem sabia socar passou a ser mortal para “explicar” a morte de cicrano, que na verdade foi atropelado por um trem. Até pesquisadores insuspeitos cometem sérios equívocos quando interpretam fenômenos realmente vistos, como constataremos outro dia, na análise da gravura de Johann Moritz Rugendas! Agora, imagine quantos equívocos ocorrem, quando o pesquisador, além de se meter a interpretar o que NUNCA VIU é pouco honesto!
Aí eu disse ao aluno que nas décadas de 40 a 60, em Sorocaba, alguns briguentos usavam uma rasteira sem técnica específica de arte marcial alguma, que era quase um pontapé nas pernas do outro. Ela podia não derrubar, mas que estragava a canela de quem a dava e de quem a recebia, isto estragava. Chamávamos de pernada a esse golpe dado entre socos, dentadas, unhadas etc., no sufoco de uma pancadaria e desvinculado de qualquer sistema técnico. E assim como o sujeito dizia ter DADO um soco sem ser boxeador, uma cotovelada ou cabeçada sem ser carateca, também dizia: “dei pernada” sem ser de nada. Nos bailes de carnaval, por exemplo, quando um sujeito passava pulando com uma garota, ao som do samba ou das marchas, um briguento qualquer podia passar-lhe o pé numa rasteira pelas costas. Era um ato covarde e traiçoeiro para humilhar e provocar briga, e o agressor dizia ter dado uma pernada no outro. O agredido, caindo ou não, podia levantar-se e partir para cima do agressor, aos socos e pontapés, ou levar na brincadeira e sair humilhado, sem bronquear. Não raro, porém, os que provocavam brigas desse modo apanhavam feio dos que reagiam, por serem normalmente fanfarrões ou “valentes” só quando protegidos por um bando.
Agora sim, o aluno adquiriu uma definição da pernada, enquanto único golpe dado por um sujeito qualquer, e não por capoeirista. Faltava-lhe apenas saber que tipo de evento é esse que recebe o nome “roda de pernada”. Como tenho humildade e honestidade para dizer que NUNCA VI uma, apesar de conhecer razoavelmente capoeira, recorri a alguém mais experiente e que viveu mais do que eu: ao amigo Esdras Magalhães dos Santos, o famoso Mestre Damião, capoeirista com histórico maravilhoso e formado pelo legendário Mestre Bimba. Ele me falou sobre a “roda de pernada” que viu nos idos dos anos 40, no Rio de Janeiro, explicando que esse nome era usado para designar o Batuque baiano, antigamente adotado pelos cariocas. Dias mais tarde esse mestre sublinhou trechos do livro de Edison Carneiro, “A Sabedoria Popular do Brasil”, edição de 1945, e gentilmente mo enviou.
O aluno deve lembrar que o etnólogo Valdeloir do Rego, grande estudioso do folclore nacional, criticou duramente um texto do Edison Carneiro, em que este interpretou, equivocado, como “modalidades de capoeira” as variações do jogo e dos toques de berimbau, que até VIU e ouviu nas rodas de capoeira (NP.015).
A crítica desse autor a erros pontuais não desmerece a totalidade das obras do Edison Carneiro. Essa crítica apenas adverte que “errar é humano” e que só o persistir no erro é que leva a duvidar da condição humana de quem errou...
Entre os tantos estudos que fez, Edison Carneiro descreveu no livro mencionado, a “pernada carioca”, chamada no Rio de “roda de pernada”: “Um dos batuqueiros ocupa o centro da roda e convida um dos assistentes a competir. O convidado se planta – junta as pernas, firmemente, desde as virilhas até os calcanhares, com os pés formando um V. O batuqueiro começa então a estudar o adversário, circulando em torno dele, (...) em busca de um ponto fraco por onde o catucar. O bom batuqueiro jamais ataca pelas costas – e o lícito, no jogo, é largara perna de frente ou de lado.Por sua vez, o convidado não vira o corpo para trás, — entre outras razões porque ficaria indefeso contra a pernada (...). Habitualmente, o convidado não se agüenta nas pernas e vai ao chão. Nesse caso, o batuqueiro convida outra pessoa da roda. Se, entretanto, não o derrubar,os papéis se invertem – e é o batuqueiro que se planta para o convidado(...).Enquanto se mantém firme,e invicto, (...) o batuqueiro ocupa o centro da roda e vai chamando os assistentes:
Se você é home
Eu também sô
Se você dá pernada
Eu também dô”.
Quem já VIU capoeira e de algum modo conheceu este jogo de agilidade,graça e arte, por certo compara com o folguedo da pernada carioca e constata brutais diferenças,principalmente de princípios determinantes dos movimentos, do canto, dos objetivos a serem alcançados,etc. Para começar, o princípio reinante na capoeira é o de movimento constante, seja defensivo e ofensivo, não admitindo ninguém plantado.
Edison Carneiro descreveu o jogo da pernada carioca como uma competição que só termina com vencedores e vencidos, e depois,para compará-la com o Batuque baiano, evocou a descrição de um jogo no interior do município de Cachoeira, feita por Clóvis Amorim, no seu romance, O Alambique, de 1934.
“Organizaram um batuque-boi na porta do vaqueiro... Zé Costa foi o escolhido para ser o “mandão”. Tomou do berimbau e iniciou o comando.
—Vamo vê o pá primêro.
Caiçara, um agregado da Cabonha, e o foguista novato pularam na roda. Costa gritou. — S’aperpare.
O foguista juntou as pernas, firmou- se e, batendo as mãos espalmadas nas coxas, avisou:
— Carro no toco.
Caiçara, ligeiro, deu-lhe várias pernadas, passando a primeira, a segunda e a terceira raspa, fazendo o possível para derrubá-lo. O foguista resistia. Bambeava e não
caía. Palmas. A torcida se manifestava:
— Êta, caboclo bão!
Mourão de cancela.
Zé Costa batia o berimbau:
— Óia o eixo.
Caiçara ficou de pé. Juntou as coxas, prevenindo:
— Ferrão no boi.
O foguista, mais sagaz, logo na primeira raspa deu com Caiçara no chão. O berimbau parou. O foguista, zombeteiro, chuetava:
— Eco! Levanta boi!
Costa anunciou a vitória:
Pica-pau de mato grosso
tem catinga no sovaco.
De dia pica no pau,
de noite no teu buraco.
Batuqueiro, berimbau, mete essa perna num saco.
As ovações estrugiram, aclamando o vencedor...”
Bem, a descrição da pernada carioca feita por Edison Carneiro,como se vê, é idêntica à descrição do Batuque baiano feita também por Clóvis Amorim. Mas, também dão autenticidade a esses relatos, fontes diversas. Entre os depoentes há uma distância grande no espaço e no tempo, e a falta de contato entre eles torna veraz o que há de coincidência nos relatos. Impressiona, ainda, a coerência lógica ligando essas descrições com a música “General da Banda”, que foi sucesso do carnaval carioca no ano de 1949: É uma “batucada” de Satyro de Melo e Waldemar Silva, cuja letra é um refrão do batuque. Aliás, na infância, eu e demais sorocabanos brincamos o carnaval cantando...
Chegou o general da banda e ê
Chegou o general da banda ê a
Mourão, Mourão! Vara madura que não cai
Mourão, Mourão, catuca por baixo que ele cai...
O termo “General” aludia ao campeão da roda, ao “mandão” que atingiu grau elevado na hierarquia de vencedores. Edison Carneiro o dá como alusivo a Ogum, deus do ferro dos nagôs. De qualquer modo, o campeão da banda só podia ser um especialista em dar a banda traçada, golpe de rasteira do batuque, que é acompanhada de uma pancada de joelho na coxa da vítima. Mourão é um tronco com boa parte enterrada na terra e firmemente fincada para sustentar arames de cerca rural. É a “vara madura que não cai”, figurando o sujeito fixado solidamente sobre os pés e de corpo ereto, suportando pernadas, bandas e raspas (sempre golpes dados com as pernas, daí o nome pernadas e a expressão “catuca por baixo”). É evidente a identificação do batuqueiro carioca com o “mourão de cancela”, o palanque mais forte que além da cerca suporta grossa porteira que gira à sua volta tendo-o como eixo do giro.
Mais autenticidade lógica e de depoimento coincidente iremos encontrar no Annibal Burlamarqui (Zuma), um carioca que propôs no livro, Ginástica Nacional, de 1928, a transformação da capoeira em arte marcial esportiva. Na página 29 ele descreveu o “baú” como técnica que servia de apoio à banda, antes de, segundo ele, ser adotada pela capoeira.
Nestor Capoeira, uma lenda viva da capoeira na década de 1960, e que levou a prática para a Europa após 1971, é escritor, ator de cinema, iniciado por mestre Leopoldina, também não chegou a VER roda de pernada, apesar de ser do Rio de Janeiro. Mas em seu excelente livro: “Capoeira, os fundamentos de malícia” evoca depoimentos dos que realmente VIRAM, pois a descrevem como o Batuque já exposto. Leopoldina, por exemplo, explica que “no Rio de Janeiro havia a pernada, muito semelhante ao batuque”. Nestor também expõe a descrição de Sergio Cabral (As Escolas de Samba, Ed. Fontana): “Marcelino José Cláudio, o tio Maçu, que morreu em 1973 ao 75 anos de idade, foi o primeiro mestre-sala da Estação Primeira de Mangueira, além de ter sido um ás nas rodas de pernada”. O texto destaca a exceção do sambista freqüentar roda de pernada. E a menção de Maçu a bandas de frente, de lado e de costas, a jogada, a cruzada, a dourada e a amarrada, só designam tipos de pernadas, ou golpes típicos do batuque.
Nestor lembra também o que lhe contou o Leopoldina, sobre as rodas de pernada em frente à Central do Brasil, durante o carnaval carioca. Note, caro discípulo, que a “roda de pernada” não se apresentava em desfiles de carnaval. Leopoldina disse que “A grande chinfra era esperar o malandro plantado numa perna só: quando a banda batia, tinha de subir no ar, trocar de perna girando e já sair sambando”. Isto significa que quem esperava o golpe plantado, como um mourão de cerca, podia desafiar o atacante com sua agilidade plantado numa perna só. Depois de suportar a banda (pernada), ridicularizava o adversário dando passos ritmados ou pulando em “banda solta”, festejando por ter continuado em pé. Édison Carneiro explica isso na página 18 da obra citada. Porém, não foi só ele que descreveu esse detalhe...
Raimundo César Alves de Almeida, o admirável Mestre Itapoan, capoeira formado do Mestre Bimba na década de 50 ou 60, pesquisador sério e escritor, em seu livro “Mestre Atenilo, o relâmpago da Capoeira Regional”, que salvo engano também confessa nunca ter VISTO roda de pernada ou batuque, trava o seguinte diálogo com o entrevistado:
Itapoan – Atenilo, você se lembra de algum golpe do batuque?
Atenilo – Tem a Cruzada, Cruzo de Carrero, Baú, tem a pancada de
coxa...
Itapoan – Daí é que saíu a Banda traçada? Dessa pancada de coxa Bimba fez a Banda Traçada?
Atenilo – Daí é que saiu a Banda Traçada, você fica em pé eu venho de lado e meto a perna, desequilibro e arrasto. É a Banda Traçada.
Itapoan – E batuqueiro, você conheceu muito aqui em Salvador, porque eu só conheci Tiburcino de Jaguaripe, você conheceu?
Atenilo – Me lembro, eu conhecia Batuqueiros do interior. Eu gostava também do Batuque. Você ficava parado...
Itapoan – Banda Solta?
Atenilo – Era, você ficava parado e aí vinha a pancada de coxa e você se defendia. A Cruzada de Carreira é a pior que tem, porque quando você pega, desequilibra na perna, o pé dele acabou de sair do chão, subiu, você panhou ele em baixo ele vai cair como daqui lá no meio da rua...
Itapoan – Mas os caras só podiam se defender quando o outro aplicava um golpe?
Atenilo – Era, ficava em Banda Solta. Quando ele caía lá que se aprumasse, ou senão caísse... (...)
Itapoan – (...) Devia machucar muito a canela, Bimba me falava que a perna ficava cheia de cicatrizes.
Atenilo – Eu tinha um tio, que as pernas dele era toda cheia de “calombo” de tanto bater. Tinha indivíduo que pegava você e arrastava e tinha indivíduo que entrava e batia com tudo, e o pior é que todos dois se machucavam.
Itapoan – Porque quem não sabe aplicar rasteira com técnica dá pontapé, não é?
Atenilo – Dá pontapé e machuca.
Aqui se pode verificar a descrição da “roda de pernada” enquanto um folguedo folclórico que a tradição preservou até o seu desaparecimento, onde existiu. Trata-se de modalidade com específico modo de cantar, de tocar. Trata-se, portanto, de um sistema distinto de outros, sendo sempre bom saber que nem sempre quem usa o termo batuque está falando da modalidade descrita. Este termo foi generalizado para designar qualquer batida em tambor, lata etc. Também há rodas de samba que são chamadas de batuque, mas que apresentam diferenças substanciais do batuque descrito, como é a umbigada...
Documentos históricos, assim como os de Rugendas, apresentam os primeiros registros, tanto da Capoeira como de formas do batuque, mostrando que foram atividades que se desenvolviam independentes e em paralelo. A própria denominação específica para cada prática é diferente, indicando que desenvolveram distintas.
Sabe-se que o pai de Bimba foi grande batuqueiro, e que ao criar o estilo Regional de Capoeira, o seu mestre maior teria incluído golpes do Batuque. Há muita controvérsia a esse respeito, mas se o Batuque entrou na Capoeira Regional, não a influenciou mais que a luta Greco Romana e o Judô... É possível, porém, que o Batuque e a Capoeira tenham recebido influência, um da outra e vice-versa. Mas é absurdo afirmar-se que uma derivou de outra, porque as provas existentes permitem que se levante hipóteses (suposições lógicas), como: 1) de que a Capoeira e o Batuque tiveram desenvolvimento e surgimento independente, em separado; 2) que qualquer tipo de pernada, como a Tiririca ou a de um golpe só tenham sido corruptelas de lances do batuque. Agora, desprezando provas e partindo para a ignorância pode-se levantar “chutes” ou achos totalmente auto-excludentes como: 1) a capoeira se originou do batuque; 2) o batuque se originou da Capoeira.
Seja lá como for, fica absolutamente demonstrado que capoeira não é batuque. Que o batuque descrito ou a pernada carioca e baiana é uma atividade folclórica, sistemática, com características peculiares de uma prática regular, pois teve até praticantes consagrados, famosos e campeões, e que a pernada de um golpe só ),... a “tiririca” e outras “pernadas”, onde realmente existiram, são corruptelas, simplificações ou deformações do Batuque; da “pernada carioca”, porque na história da capoeira nunca houve “pernada”.
Dito tudo isto ainda pergunto ao aluno: “Alguma vez você VIU alguém fazer pilhéria diante de japonês dizendo que são todos iguais? Então, VER pessoas diferentes, como sendo iguais exemplifica o uso de generalizações pouco inteligentes para dar respostas à imensidão de questões que a vida oferece”.
E o discípulo finalizou: “Oh mestre! Essa é uma brincadeira e ninguém seria tão fútil a ponto de ter essa atitude leviana diante de fatos diferentes”.
Encerrei a lição dizendo: caro aluno, há gente fútil para tudo, inclusive para aprender neste Informativo e depois usar o aprendido para aperfeiçoar as mentiras que contestei. Isto já foi feito e agora, por exemplo, os mentirosos saberão descrever a “roda de pernada”. Bom que seja assim, pois a nossa missão é ensinar...